CardiologiaTeste Ergométrico

Estratificação de risco na Síndrome de Brugada: o Teste Ergométrico é uma ferramenta útil?

A Síndrome de Brugada (SdB) é uma condição cardíaca hereditária caracterizada por uma anormalidade nos canais de sódio, aumentando o risco de arritmia ventricular e morte súbita. Essa síndrome afeta principalmente indivíduos em idade jovem e de meia-idade, sendo frequentemente ligada à mutação SCN5A, que impacta o funcionamento dos canais de sódio e a condução elétrica do coração. Contudo, fatores não genéticos, como desequilíbrios eletrolíticos, febre, hipotermia e certos medicamentos, também podem influenciar o desenvolvimento da condição .

Diagnóstico e estratificação de risco

O diagnóstico da síndrome de Brugada é feito por meio de um eletrocardiograma (ECG), no qual se identifica um padrão típico de elevação côncava do segmento ST nas derivações precordiais direitas (V1 e V2), conforme figura abaixo. No entanto, essa elevação pode ser espontânea ou induzida por testes provocativos com bloqueadores de canais de sódio. É importante diferenciar a SdB de condições que podem imitar o padrão ECG, como isquemia miocárdica e distúrbios eletrolíticos.

Gráfico de eletrocardiograma mostrando elevação do segmento ST em um paciente com síndrome de Brugada.
Gráfico de eletrocardiograma mostrando elevação do segmento ST em um paciente com síndrome de Brugada.

Alterações eletrocardiograficas encontradas na SdB

Estratificar o risco de eventos graves, como a morte súbita cardíaca (MSC), é um desafio clínico, especialmente em pacientes assintomáticos. Enquanto indivíduos sintomáticos, como aqueles com síncope, apresentam risco mais alto e frequentemente requerem a implantação de um cardioversor-desfibrilador implantável (CDI), o risco em pacientes assintomáticos é menos claro e o acompanhamento clínico é geralmente indicado .

O papel do Teste Ergométrico

O teste ergométrico (TE) tem sido estudado como uma ferramenta para avaliar a regulação autonômica em pacientes com SdB. Durante o esforço, a frequência cardíaca (FC) aumenta devido à estimulação adrenérgica, e no início da recuperação observa-se uma queda abrupta da FC devido ao retorno da atividade vagal . Estudos sugerem que a fase de recuperação do TE pode ser crucial para a avaliação do risco de complicações em pacientes com SdB.

Estudos e Achados Relevantes

Um estudo longitudinal com 93 pacientes diagnosticados com SdB buscou avaliar o comportamento do segmento ST durante o exercício e correlacionar esses achados com desfechos cardiovasculares. Os resultados indicaram que o aumento do supradesnivelamento do ponto J em pacientes durante o esforço foi um preditor independente de complicações cardiovasculares, como MSC e fibrilação ventricular (FV) .

Outro estudo recente com 75 indivíduos assintomáticos identificou preditores como a lentificação da recuperação da frequência cardíaca (RFC) e o aumento da relação da duração da onda S ao ponto J durante o pico do esforço. Esses fatores se correlacionaram com piores desfechos cardiovasculares, como MSC e FV .

A importância da fase de recuperação

A fase de recuperação pós-esforço tem sido consistentemente apontada como um momento crítico para a avaliação do risco em pacientes com SdB. A recuperação precoce, marcada pelo retorno súbito da atividade vagal, tem sido associada ao aumento do supradesnivelamento do segmento ST e a um maior risco de arritmias ventriculares .

Conclusão: o Teste Ergométrico na Síndrome de Brugada

Embora a realização de estudos com grandes amostras seja limitada na síndrome de Brugada, as evidências existentes sugerem que o teste ergométrico pode ser uma ferramenta útil para a estratificação de risco, especialmente quando observados os achados durante a fase de recuperação. A Diretriz Brasileira de Ergometria recomenda o uso do TE para confirmar o diagnóstico de SdB e avaliar o risco arritmogênico, com nível de recomendação 2A .

Portanto, embora o TE não seja um teste de primeira linha para todos os pacientes com SdB, ele pode fornecer informações valiosas sobre a atividade autonômica e o comportamento do segmento ST, auxiliando na estratificação de risco em pacientes específicos.

  1. Benito B, Brugada R, Brugada J, Brugada P. Brugada syndrome. Prog Cardiovasc Dis. 2008;51(1):1–22.
  2. Shimizu W. Acquired forms of the Brugada syndrome. J Electrocardiol. outubro de 2005;38(4 Suppl):22–5.
  3. Brugada J, Campuzano O, Arbelo E, Sarquella-Brugada G, Brugada R. Present Status of Brugada Syndrome: JACC State-of-the-Art Review. J Am Coll Cardiol. 28 de agosto de 2018;72(9):1046–59.
  4. Wilde AAM, Semsarian C, Márquez MF, Sepehri Shamloo A, Ackerman MJ, Ashley EA, et al. European Heart Rhythm Association (EHRA)/Heart Rhythm Society (HRS)/Asia Pacific Heart Rhythm Society (APHRS)/Latin American Heart Rhythm Society (LAHRS) Expert Consensus Statement on the State of Genetic Testing for Cardiac Diseases. Heart Rhythm. julho de 2022;19(7):e1–60.
  5. Lahiri MK, Kannankeril PJ, Goldberger JJ. Assessment of autonomic function in cardiovascular disease: physiological basis and prognostic implications. J Am Coll Cardiol. 6 de maio de 2008;51(18):1725–33.
  6. Arai Y, Saul JP, Albrecht P, Hartley LH, Lilly LS, Cohen RJ, et al. Modulation of cardiac autonomic activity during and immediately after exercise. Am J Physiol. janeiro de 1989;256(1 Pt 2):H132-141.
  7. Makimoto H, Nakagawa E, Takaki H, Yamada Y, Okamura H, Noda T, et al. Augmented ST-segment elevation during recovery from exercise predicts cardiac events in patients with Brugada syndrome. J Am Coll Cardiol. 2 de novembro de 2010;56(19):1576–84.
  8. Subramanian M, Prabhu MA, Harikrishnan MS, Shekhar SS, Pai PG, Natarajan K. The Utility of Exercise Testing in Risk Stratification of Asymptomatic Patients With Type 1 Brugada Pattern. J Cardiovasc Electrophysiol. junho de 2017;28(6):677–83.
  9. Morita H, Asada ST, Miyamoto M, Morimoto Y, Kimura T, Mizuno T, et al. Significance of Exercise-Related Ventricular Arrhythmias in Patients With Brugada Syndrome. J Am Heart Assoc. dezembro de 2020;9(23):e016907.
  10. Pichara NL, Sacilotto L, Scanavacca MI, Cardoso AF, Soares BMAF, Falcochio PPPF, et al. Evaluation of a new treadmill exercise protocol to unmask type 1 Brugada electrocardiographic pattern: can we improve diagnostic yield? Eur Eur Pacing Arrhythm Card Electrophysiol J Work Groups Card Pacing Arrhythm Card Cell Electrophysiol Eur Soc Cardiol. 4 de julho de 2023;25(7):euad157.
  11. Masrur S, Memon S, Thompson PD. Brugada syndrome, exercise, and exercise testing. Clin Cardiol. maio de 2015;38(5):323–6.
  12. Carvalho T de, Freitas OGA de, Chalela WA, Hossri CAC, Milani M, Buglia S, et al. Diretriz Brasileira de Ergometria em População Adulta – 2024. Arq Bras Cardiol. 17 de junho de 2024;121:e20240110.
Instituto Limiares

Sobre o Instituto Limiares

O Instituto Limiares é referência em inovação, conhecimento e experiência no setor de saúde, oferecendo soluções de consultoria e ensino médico de excelência. Com foco em Reabilitação Cardiovascular, Testes Cardiopulmonares e outros diagnósticos em Cardiologia, a Consultoria Limiares ajuda a transformar clínicas e hospitais, elevando a qualidade dos serviços prestados e garantindo um diferencial competitivo. Além disso, o Ensino Limiares oferece capacitação avançada por meio de tecnologias modernas, como EAD e aulas presenciais, ministradas pelos maiores especialistas do país.

Transforme sua prática clínica com o Instituto Limiares.

Instagram
LinkedIn
Imersão em TCP