A Síndrome de Brugada (SdB) é uma condição cardíaca hereditária caracterizada por uma anormalidade nos canais de sódio, aumentando o risco de arritmia ventricular e morte súbita. Essa síndrome afeta principalmente indivíduos em idade jovem e de meia-idade, sendo frequentemente ligada à mutação SCN5A, que impacta o funcionamento dos canais de sódio e a condução elétrica do coração. Contudo, fatores não genéticos, como desequilíbrios eletrolíticos, febre, hipotermia e certos medicamentos, também podem influenciar o desenvolvimento da condição .
Diagnóstico e estratificação de risco
O diagnóstico da síndrome de Brugada é feito por meio de um eletrocardiograma (ECG), no qual se identifica um padrão típico de elevação côncava do segmento ST nas derivações precordiais direitas (V1 e V2), conforme figura abaixo. No entanto, essa elevação pode ser espontânea ou induzida por testes provocativos com bloqueadores de canais de sódio. É importante diferenciar a SdB de condições que podem imitar o padrão ECG, como isquemia miocárdica e distúrbios eletrolíticos.
![Gráfico de eletrocardiograma mostrando elevação do segmento ST em um paciente com síndrome de Brugada.](https://institutolimiares.com.br/wp-content/uploads/2024/10/Grafico1.jpg)
![Gráfico de eletrocardiograma mostrando elevação do segmento ST em um paciente com síndrome de Brugada.](https://institutolimiares.com.br/wp-content/uploads/2024/10/Grafico2.jpg)
Alterações eletrocardiograficas encontradas na SdB
Estratificar o risco de eventos graves, como a morte súbita cardíaca (MSC), é um desafio clínico, especialmente em pacientes assintomáticos. Enquanto indivíduos sintomáticos, como aqueles com síncope, apresentam risco mais alto e frequentemente requerem a implantação de um cardioversor-desfibrilador implantável (CDI), o risco em pacientes assintomáticos é menos claro e o acompanhamento clínico é geralmente indicado .
O papel do Teste Ergométrico
O teste ergométrico (TE) tem sido estudado como uma ferramenta para avaliar a regulação autonômica em pacientes com SdB. Durante o esforço, a frequência cardíaca (FC) aumenta devido à estimulação adrenérgica, e no início da recuperação observa-se uma queda abrupta da FC devido ao retorno da atividade vagal . Estudos sugerem que a fase de recuperação do TE pode ser crucial para a avaliação do risco de complicações em pacientes com SdB.
Estudos e Achados Relevantes
Um estudo longitudinal com 93 pacientes diagnosticados com SdB buscou avaliar o comportamento do segmento ST durante o exercício e correlacionar esses achados com desfechos cardiovasculares. Os resultados indicaram que o aumento do supradesnivelamento do ponto J em pacientes durante o esforço foi um preditor independente de complicações cardiovasculares, como MSC e fibrilação ventricular (FV) .
Outro estudo recente com 75 indivíduos assintomáticos identificou preditores como a lentificação da recuperação da frequência cardíaca (RFC) e o aumento da relação da duração da onda S ao ponto J durante o pico do esforço. Esses fatores se correlacionaram com piores desfechos cardiovasculares, como MSC e FV .
A importância da fase de recuperação
A fase de recuperação pós-esforço tem sido consistentemente apontada como um momento crítico para a avaliação do risco em pacientes com SdB. A recuperação precoce, marcada pelo retorno súbito da atividade vagal, tem sido associada ao aumento do supradesnivelamento do segmento ST e a um maior risco de arritmias ventriculares .
Conclusão: o Teste Ergométrico na Síndrome de Brugada
Embora a realização de estudos com grandes amostras seja limitada na síndrome de Brugada, as evidências existentes sugerem que o teste ergométrico pode ser uma ferramenta útil para a estratificação de risco, especialmente quando observados os achados durante a fase de recuperação. A Diretriz Brasileira de Ergometria recomenda o uso do TE para confirmar o diagnóstico de SdB e avaliar o risco arritmogênico, com nível de recomendação 2A .
Portanto, embora o TE não seja um teste de primeira linha para todos os pacientes com SdB, ele pode fornecer informações valiosas sobre a atividade autonômica e o comportamento do segmento ST, auxiliando na estratificação de risco em pacientes específicos.
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