Setembro Amarelo: um convite para cuidar da mente e do coração

O Setembro Amarelo é um mês voltado para a conscientização sobre a saúde mental e a prevenção ao suicídio. No entanto, este é também o momento ideal para discutir o impacto da saúde mental de nosso paciente e seu risco cardiovascular.  Em publicação do ano passado, a American Heart Association e o American College of Cardiology destacaram a importância de abordar condições de saúde mental, como depressão e ansiedade, no manejo de doenças coronarianas crônicas. Essas condições são comuns em pacientes com doenças cardiovasculares e podem afetar negativamente a adesão ao tratamento e os resultados clínicos.(1) Programas de reabilitação cardíaca, que frequentemente incluem componentes de manejo do estresse, são altamente recomendados para reduzir a mortalidade relacionada ao estresse.(2,3)

 O estresse psicológico é um fator de risco independente para eventos cardiovasculares adversos, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.(4,5) A exposição crônica ao estresse pode levar a disfunção endotelial, aumento da atividade simpática, inflamação sistêmica e progressão da aterosclerose.(6,7)

A ansiedade também tem um impacto significativo na saúde cardiovascular. Estudos demonstram que a ansiedade está associada a um aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e a piores desfechos em pacientes com DCV preexistente.

Uma meta-análise abrangendo 37 estudos prospectivos com mais de 1,5 milhão de participantes mostrou que a ansiedade está associada a um aumento de 52% na incidência de DCV (HR = 1,52; IC 95% 1,36-1,71), independentemente de fatores de risco tradicionais e depressão.(8) Outro estudo de coorte com meio milhão de adultos chineses revelou que sintomas de ansiedade, incluindo ataques de pânico e ansiedade contínua, estão associados a um aumento significativo no risco de DCV, IAM e AVC.(9)

Já em relação a depressão, uma meta-análise recente revelou que a depressão está associada a um aumento do risco de AVC (HR 1,13; IC 95%, 1,00-1,28), IAM (HR 1,28; IC 95%, 1,14-1,45) e insuficiência cardíaca congestiva (HR 1,04; IC 95%, 1,00-1,09).(10) Além disso, a depressão também está associada a um aumento da mortalidade por todas as causas (HR 1,43; IC 95%, 1,27-1,60). A American Heart Association destaca que a depressão é prevalente em populações com doenças cardiovasculares, afetando cerca de 20% dos pacientes com doença arterial coronariana e até 35% dos pacientes com insuficiência cardíaca. A depressão nesses pacientes está associada a uma pior qualidade de vida, maior frequência de angina e limitações físicas, além de menor satisfação com o tratamento.(11)

Como ajudar nossos pacientes?

A saúde mental deve ser abordada em todas as consultas, e nosso papel vai além de apenas encaminhar o paciente para um psiquiatra ou psicólogo. Fazemos parte do tratamento, oferecendo apoio contínuo e integrando o cuidado emocional ao acompanhamento geral.

Existem técnicas psicológicas como os “4Ds para Lidar com o Estresse”, estimular atividades mindfulness e reforçar a importância de um ambiente de trabalho psicologicamente saudável. Abaixo uma breve revisão dos pontos, algumas que são de domínio do especialista de saúde mental, porém outras podemos estimular e assim ajudar o paciente a aderir ao tratamento. 

4Ds para Lidar com o Estresse: Esta técnica, descrita por Mansell et al., envolve quatro componentes: Distrair, Diluir, Desenvolver e Descobrir.(12)

• Distrair: Encoraje os pacientes a se envolverem em atividades que desviem a atenção do estresse imediato. Isso pode incluir hobbies, exercícios físicos ou qualquer atividade que eles achem prazerosa e absorvente. A distração ajuda a reduzir a intensidade emocional do estresse no curto prazo.
• Diluir: técnicas para reduzir estresse de forma imediata. Entre as mais comuns existem os exercícios ventilatórios e grounding.
• Desenvolver: estimular o paciente a reservar um tempo específico para preocupações, organizar suas atividades, buscar o apoio social.
• Descobrir: para os profissionais que não são da área de saúde mental, a orientação é escutar ativamente para explorar um problema, sem oferecer conselhos, interpretações ou soluções.

Meditação: é benéfica para a redução do risco cardiovascular, ajuda no controle da pressão arterial, as taxas do colesterol, na prevenção e controle da diabete. (13)

Ambiente de Trabalho Psicologicamente Saudável: A American Heart Association destaca a importância de promover a segurança psicológica no local de trabalho para reduzir o risco de burnout e melhorar a saúde mental dos trabalhadores.(14)

Essas abordagens integradas podem ajudar a melhorar significativamente a saúde mental dos pacientes, tanto no ambiente de trabalho quanto na vida pessoal.

1. Virani SS, Newby LK, Arnold SV, Bittner V, Brewer LC, Demeter SH, et al. 2023 AHA/ACC/ACCP/ASPC/NLA/PCNA Guideline for the Management of Patients With Chronic Coronary Disease: A Report of the American Heart Association/American College of Cardiology Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 29 de agosto de 2023;148(9):e9–119.
2. Popovic D, Bjelobrk M, Tesic M, Seman S, Jayasinghe S, Hills AP, et al. Defining the importance of stress reduction in managing cardiovascular disease – the role of exercise. Prog Cardiovasc Dis. 2022;70:84–93.
3. Angst F, Giger RD, Lehmann S, Sandor PS, Teuchmann P, Csordas A. Mental and psychosocial health and health related quality of life before and after cardiac rehabilitation: a prospective cohort study with comparison to specific population norms. Health Qual Life Outcomes. 7 de junho de 2022;20(1):91
4. O’Keefe EL, O’Keefe JH, Lavie CJ. Exercise Counteracts the Cardiotoxicity of Psychosocial Stress. Mayo Clin Proc. setembro de 2019;94(9):1852–64.
5. Chinnaiyan KM. Role of stress management for cardiovascular disease prevention. Curr Opin Cardiol. setembro de 2019;34(5):531–5.
6. Henein MY, Vancheri S, Longo G, Vancheri F. The Impact of Mental Stress on Cardiovascular Health-Part II. J Clin Med. 28 de julho de 2022;11(15):4405.
7. Sara JDS, Toya T, Ahmad A, Clark MM, Gilliam WP, Lerman LO, et al. Mental Stress and Its Effects on Vascular Health. Mayo Clin Proc. maio de 2022;97(5):951–90.
8. Batelaan NM, Seldenrijk A, Bot M, van Balkom AJLM, Penninx BWJH. Anxiety and new onset of cardiovascular disease: critical review and meta-analysis. Br J Psychiatry J Ment Sci. março de 2016;208(3):223–31.
9. Wu M, Zhu Y, Lv J, Guo Y, Yang L, Chen Y, et al. Association of anxiety with cardiovascular disease in a Chinese cohort of 0.5 million adults. J Affect Disord. 15 de outubro de 2022;315:291–6.
10. Krittanawong C, Maitra NS, Qadeer YK, Wang Z, Fogg S, Storch EA, et al. Association of Depression and Cardiovascular Disease. Am J Med. setembro de 2023;136(9):881–95.
11. Rumsfeld JS, Alexander KP, Goff DC, Graham MM, Ho PM, Masoudi FA, et al. Cardiovascular health: the importance of measuring patient-reported health status: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 4 de junho de 2013;127(22):2233–49.
12. Mansell W, Urmson R, Mansell L. The 4Ds of Dealing With Distress – Distract, Dilute, Develop, and Discover: An Ultra-Brief Intervention for Occupational and Academic Stress. Front Psychol. 2020;11:611156.
13. Marino F, Failla C, Carrozza C, Ciminata M, Chilà P, Minutoli R, et al. Mindfulness-Based Interventions for Physical and Psychological Wellbeing in Cardiovascular Diseases: A Systematic Review and Meta-Analysis. Brain Sci. 29 de maio de 2021;11(6):727.
14. Mehta LS, Churchwell K, Coleman D, Davidson J, Furie K, Ijioma NN, et al. Fostering Psychological Safety and Supporting Mental Health Among Cardiovascular Health Care Workers: A Science Advisory From the American Heart Association. Circulation. 9 de julho de 2024;150(2):e51–61.